“Os verdadeiros desafios da implantação desta cultura nas empresas”

A meritocracia é uma cultura largamente discutida corporativamente. A definição do conceito é simples e objetiva: valorizar, bonificar e elevar os profissionais que alcançarem desempenhos destacados dentro da organização. Creio que nenhum gestor diria que não concorda com este raciocínio, afinal é óbvio que aquele que melhor desempenha suas atividades, que se esforça mais e verdadeiramente veste a camisa da empresa, seja o merecedor de uma possível promoção ou reconhecimento diferenciado.

Porém o que vemos no dia a dia empresarial é uma sequência de tropeços na implantação desta cultura. Verdadeiramente integrar a meritocracia na cultura da empresa é um desafio muito mais complexo do que um simples comparativo de percentuais. Para começar, é muito corriqueiro que existam indicadores de desempenho falhos, baseados em métricas que não necessariamente estão atingindo os objetivos reais da empresa.

Dentro deste raciocínio, um simples erro em alguns padrões poderia afetar comparativos de desempenho, acarretando em vantagens ou desvantagens injustas a algumas pessoas. Pronto, este pequeno erro trará falso senso de desempenho e uma inerente injustiça.

Outro ponto fundamental a ser lembrado é que não pode haver exceções, uma empresa que opta por trabalhar sob a cultura da meritocracia não poderá em hipótese alguma burlar este conceito em nenhuma decisão, não existe meio termo, é tudo ou nada. Se uma empresa dita meritocrática promover um “amiguinho” em detrimento a outro profissional mais esforçado e preparado, será uma mensagem direta aos outros colaboradores de que não existem garantias de que seus esforços serão reconhecidos.

Mais uma grande fonte de injustiças na aplicação falha da meritocracia é o nível de treinamento e preparo dado aos profissionais quando estes iniciam em uma posição na empresa. Muitas vezes a orientação dada ao funcionário dura menos de uma semana, em alguns casos é feita em um dia. O crescimento e desenvolvimento de um profissional em determinada posição, nestas fases iniciais, acaba dependendo enormemente da sua capacidade autodidata, ou da ajuda dos colegas de trabalho.

Penso neste texto como um alerta principalmente aos empresários, suas decisões quanto a promoções e repasse de benefícios determinarão o interesse dos profissionais em dedicar suas vidas à empresa, investindo na construção de sua carreira nesta. Não é novidade que companhias de sucesso carregam consigo líderes que conseguem cultivar e manter uma equipe excelente, o que muitas vezes não se aplica é o reconhecimento visível desta excelência, e quando as razões do crescimento profissional em determinado local são obscuras, os talentos escoam pelos dedos.

A meritocracia é cultura fundamental na empresa, por isso não desista de refinar as ferramentas e métricas de avaliação de desempenho. Inicialmente deve-se ter certeza de que as metas estão claras a todos, não poderá haver dúvidas do que é esperado do profissional. Todos os níveis de liderança devem constantemente comunicar à sua equipe o que é desejado, e quem são os indivíduos (e as equipes) que estão com desempenho positivamente destacado. Estes objetivos traduzidos em metas devem ser desdobrados de objetivos maiores, estratégicos à empresa.

O atingimento das metas, sem esquecer-se da ética, será um grande passo para o reconhecimento do profissional, mas a pitada extra da equação será uma avaliação trezentos e sessenta graus desta pessoa. O que seus clientes, fornecedores e colegas pensam dele? Se a gestão sente falta de algo, é responsabilidade dele ou lhe foi negado algum recurso? Uma coisa é certa, sempre haverá os que não concordam com os critérios, nenhuma política será unânime, mas se esta atende sem conflitos o foco da empresa e se as métricas são constantemente refinadas para serem as mais fiéis possíveis, a receita será de sucesso.